Com a maioria dos moradores passando dia e noite dentro dos prédios, o que era simples chateação virou um grande problema – o que dificulta ainda mais a rotina dentro dos condomínios e aumenta a responsabilidade dos síndicos

A convivência coletiva nunca foi fácil. Som alto, reformas, crianças correndo, festinhas, pessoas batendo papo na varanda são situações que sempre incomodaram quem mora em prédio. Mas uma coisa é ter de aguentar o incômodo durante um fim de semana. Outra, muito diferente, é passar o dia inteiro com a perturbação durante meses de confinamento.
Com 150 condomínios o Jardim Aquarius nunca registrou tantas reclamações sobre os seus próprios moradores. Em 11 anos de revista Aquarius Life pode-se afirmar que as queixas entre vizinhos bateram recordes nas últimas semanas. Isto sem contar as reclamações sobre perturbações de sossego (veja nesta matéria) nas praças e área verdes do bairro. Números da Abadi (Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis) e AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo) indicam que os conflitos entre vizinhos triplicaram nos últimos meses.
O aumento também é sentido justamente por quem está na linha de frente das brigas: os síndicos. “Houve um aumento bem expressivo nos casos de desentendimentos. Tão grave quanto a pandemia viral é a pandemia emocional. As pessoas estão mais em casa, intolerantes com toda esta situação, estressadas com problemas financeiros, com as crianças o dia inteiro na cabeça, estressadas com os vizinhos, estressadas com quem está em obras, enfim, estressadas com tudo”, afirma o síndico profissional, palestrante e head trainer, Zago Mattiello. Com a experiência de quem administra nove condomínios em São José dos Campos, sendo três no Jardim Aquarius, ele conta que a principal discussão gira em torno do barulho.
“As pessoas estão mais sensíveis, escutando barulhos que não escutavam, já que trabalhavam fora. Agora elas ficam em casa fazendo home office, então o barulho do dia também importuna. A intolerância faz com que os barulhos normais da noite também incomodem. Está difícil, qualquer barulhinho é motivo para reclamação”, relata.
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Mediação de conflitos
Quando o conflito existe a primeira coisa a ser feita, segundo Zago, é fazer com que a portaria tente resolver a situação entre as unidades envolvidas. “Se não houver resolução e o barulho for realmente excessivo ou fora de hora eu aciono o fiscal e partimos para uma notificação. Sempre tentando dialogar. Em casos mais extremos agendamos uma reunião onde eu, síndico, faço a intermediação entre as duas unidades para tentarmos chegar a um consenso de forma amigável e respeitosa”, destaca.
Sobre as grosserias o síndico profissional conta que utiliza técnicas de treinamento comportamental e inteligência emocional. “É preciso saber lidar com as pessoas mais duras, que agem por conta do stress acumulado. Quanto mais a pessoa é agressiva, mais educado, gentil e cortês eu procuro ser. Mesmo no momento em que é preciso dar uma endurecida eu ajo sempre com educação e respeito. Estamos trabalhando muito, todos os dias recebemos reclamações sobre os mais variados assuntos. É preciso estar preparado e manter o bom controle emocional. Caso contrário você surta”, avalia.
Áreas de lazer e monitoramento da vida alheia
Outro tema polêmico em todo condomínio diz respeito à utilização das áreas de lazer. Mesmo com o funcionamento parcial, separado por família e com horário marcado, quadras e academias também são responsáveis por muitas reclamações. Boa parte das queixas é direcionada aos moradores que ficam fiscalizando as condutas de terceiros, sendo que um número considerável não é plausível de reclamação. “Tem gente que me liga e diz que as pessoas estão na quadra sem máscara: pai, mãe e filho. Mas se trata de um ambiente aberto e estão somente os três. Não tem cabimento cobrar isso. Eles também ficam sozinhos sem máscara em casa”, analisa, antes de relatar outra queixa frequente. “Reservei as churrasqueiras para colocar esteiras e bicicletas ergométricas. Tem gente que fica vigiando, que nunca usou um aparelho de ginástica, e me liga para reclamar que estão correndo sem máscara na esteira. Mas, a pessoa está em um ambiente totalmente aberto e isolado, fechado com portão e liberado para apenas uma unidade. Tem muitas reclamações que não fazem sentido”, desabafa.
Calçados no hall
A pandemia tem causado mudanças de hábitos e nas formas de agir dos moradores dentro dos condomínios. Uma delas dispõe sobre deixar os calçados no hall de entrada ou corredores. Segundo o site sindiconet as recomendações vão contra esta nova prática por questões de higiene, respeito com a equipe de limpeza e aspecto visual do hall.
“Esta é uma situação emblemática. Metade quer deixar o sapato para fora e a outra metade não quer. É uma situação bem polêmica. Muitos moradores me procuram para mostrar a convenção do prédio, se é permitido ou não”, afirma Zago.
Elevadores
Neste caso também predomina o bom senso: o morador deve evitar entrar quando ele já estiver ocupado. Aguardar o próximo faz bem à saúde de todos! As máscaras devem ser utilizadas em todas as áreas comuns.
É o que revela números dos canais oficiais da prefeitura; quantidade de multas aplicadas na quarentena se mantém equivalente à registrada no ano passado
O importuno causado pela perturbação do sossego ocorrida em diversas noites desta pandemia no Jardim Aquarius é refletido em balanço divulgado pela prefeitura. Os números de reclamações dos munícipes referentes a fluxos do funk, aglomerações e perturbações do sossego praticamente triplicaram.
Segundo os números, de 24 de março a 29 de julho de 2019, houve um total de 3.656 reclamações. Os dados também levam em conta as queixas registradas pelo 190 da Polícia Militar – que atua em conjunto com o COI (Centro de Operações Integradas) da prefeitura. Já no mesmo período deste ano, em quarentena, foram contabilizadas 9.234 denúncias. As multas aplicadas nos fluxos se mantiveram equivalentes: 459 em 2019 ante 462 deste ano.
5 Respostas
O profissional entrevistado não está alinhado com o que dizem os profissionais de saúde.
Tudo bem que tenha apenas uma família na quadra, mas na sequencia virão outras, e as partículas (aerosol) de saliva podem ficar em suspensão por algum tempo. Idem para os equipamentos de ginástica na churrasqueira, neste caso agravado pela respiração mais intensa durante a atividade física, fazendo com que aumente a dispersão das gotículas de saliva.
Quando se trata de uma pandemia global, com tantas internações e óbitos, toda precação não é excesso. E tratar reclamações com desdem, julgando serem exageradas (sem respaldo de protocolos de saúde), explica um pouco a dificuldade de nosso país em conter a pandemia.
Concordo plenamente contigo.Em área de uso comum é obrigatória sim a utilização de máscaras, não por meu capricho mas por orientação dos profissionais de saúde e por respeito à vida alheia.. Seja no parquinho, na quadra de esportes, na prática de exercícios ou simplesmente no trajeto de seu apartamento até à rua.
Tem vizinho que precisa apanhar! Arrasamento de móveis, uso de salto, jogar lixo pela janela, e por aí vai!
E quem é mais mal educado que o cão que possui e deixa o animal latindo 24h/dia na sacada sem se importar a mínima com isso?
Houve um tempo em que civilidade e respeito ao direito do outro éra até ensinado em escola, a tal Educação Moral e Cívica e reforçada pelos pais em casa. Infelizmente essa boa prática foi se perdendo ao longo do tempo e hoje temos indivíduos que só pensam no seu umbigo, pouco se importando com quem quer que seja.Sem contar esse labirinto de leis e de gestores que não tem o menor escrúpulo e dão o mau exemplo de como usá-las em proveito próprio. O conceito de viver em sociedade perdeu-se nesse emaranhado de condomínos que empacota milhares aglomerados um em cima dos outros.