Rixas entre gangues não visam lucro financeiro ou material, apenas status em meio à subcultura da delinquência juvenil que toma conta da cidade, amedronta a população e desafia às autoridades
Desde o início dos anos 2000 o crime se tornou organizado em todo o vasto estado de São Paulo, composto por diversas metrópoles regionais e 645 municípios. Nascido na Casa de Custódia de Taubaté, como uma continuação do grupo que era intitulado “Serpentes Negras”, o Primeiro Comando da Capital criou estatuto, passou a ditar regras, controlar os tráficos de drogas e armas e até a atacar as forças de segurança, como as trágicas execuções de policiais registradas em 2006.
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De lá para cá o “poder paralelo” existente em São Paulo controla as biqueiras, estabelece quais drogas podem ser comercializadas e até determina quem será executado por meio de um sangrento “julgamento”, o chamado “Tribunal do Crime”. Mais do que isso, o crime organizado está muito bem articulado em empresas de transporte, direções de presídios e câmaras municipais – basta ver os acontecimentos das duas últimas semanas envolvendo representantes do legislativo de Poá e Santa Isabel, além do diretor da penitenciária situada em Sorocaba.
Dentro dos presídios os detentos são obrigados a seguir à risca todos as diretrizes do “comando”. Quem diria, mas o crime organizado baixou as taxas de homicídios nos médios e grandes centros. Para matar alguém é preciso ter “autorização”, explicar os motivos e ter a anuência dos líderes. Caso contrário quem acaba sendo executado é o malfeitor que planejava matar sem a conivência dos chefes. As regras também existem para outras modalidades de crimes como roubos e furtos. Nas “quebradas” é proibido roubar! Até o insuportável barulho das motos foi vetado com faixas ameaçadoras nas periferias direcionadas aos motociclistas baderneiros.
O poder do estado paralelo rompeu fronteiras e alcançou até a esfera esportiva. Um “salve” da facção conseguiu o que o Estado tenta sem sucesso há 40 anos: acabar com as brigas de torcidas organizadas, afinal para o crime não é vantajoso ter alguns de seus líderes em hospitais e delegacias, já que muitos são foragidos.
Em meio ao cenário paralelo da violência paulista, uma cidade situada no fundo da RM Vale vai na contramão de tudo o que está relatado neste artigo. Situada a 120 quilômetros de São José dos Campos, a simpática Cruzeiro é hoje a cidade mais violenta de São Paulo com a triste estatística de 37,35 vítimas de homicídio por 100 mil habitantes. Na sequência aparecem Lorena (29,46), Caraguatatuba (22,98), Guaratinguetá (20,33) e São Sebastião (18,40). Maior cidade da RM Vale, e uma das maiores do estado, São José dos Campos é ponto fora da curva com uma taxa de fazer inveja a países desenvolvidos (5,74).
Em Cruzeiro boa parte dos homicídios são “comemorados” em redes sociais. Até uma lista de quem seriam as próximas vítimas foi divulgada recentemente. “É a subcultura da delinquência juvenil que toma conta da cidade. Ao contrário do restante do Estado os homicídios não visam lucro financeiro ou material. É para status mesmo, para ganhar moral em meio aos delinquentes”, afirma o Delegado Seccional de Cruzeiro, João Paulo de Oliveira Abreu. “São guerras entre gangues de bairros diferentes. São crimes desorganizados, não existe uma lei que dita regras como nos grandes centros. Se eles não conseguem assassinar determinado rival, eles matam um parente ou amigo próximo. E assim a matança continua. Mas estamos trabalhando firme, investigando e esclarecendo boa parte dos assassinatos. Vale ressaltar que não há latrocínio na cidade, são homicídios dentro de um nicho específico”, destaca o delegado, que assumiu a seccional do município em fevereiro de 2022.
Reflexo da questão social, o tráfico acaba sendo um fator motivador para os crimes, mas sem que haja disputa de territórios entre os bairros. “Membros de um bairro não vão a outro com o intuito de invadir o território para tomar aquelas riquezas. A gente tem jovens divididos em bairros e suas gangues locais, muito caracterizadas por tatuagens, estilo de se vestir, de música, estilo de falar e de se comportar. Eles têm rixas com outros bairros. A cultura da violência vem sendo propagada”, avalia o delegado. E complementa.
“Temos casos nos últimos sete ou oito meses em Cruzeiro de sete homicídios atribuídos a uma guerra entre duas partes de um bairro, porque os jovens entraram numa rixa e começaram a se matar. Quando não se encontravam mais, começaram a matar familiares. A polícia continua fazendo seu trabalho, mas nós precisamos que outros fatores sociais interajam junto com a polícia para que esse jovem não seja tão facilmente atraído pelo crime”, acrescenta.
Segundo o entrevistado o perfil dos integrantes das gangues é parecido: são indivíduos oriundos de famílias desestruturadas, jovens de baixa escolaridade, entre 15 e 25 anos, desempregados, sem perspectiva profissional. “Tenho conversado muito com a prefeitura de Cruzeiro. O prefeito está muito atento a essa questão sociocultural. Tenho participado até de reuniões do secretariado, estamos fazendo um trabalho coletivo com o objetivo de melhorar a cidade”, encerra o delegado.
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3 Respostas
Prefeito de Cruzeiro ? Kkkkkkk Cruzeiro piorou com a ADM dele. Pobre cidade pacata que agora se transformou num lixão. Totalmente abandonada! Uma tristeza. Ele fechou a faculdade de Educação Física, fechou a Escola Estadual mais antiga pra se transformar num viveiro de gatos,as ruas estão imundas,a Sta Casa que atende várias regiões abandonada, gente dormindo pelo chão, abrindo sacos de lixo pelas ruas,cachorros sem rumo ,abandonados. Agora eu pergunto pq Cruzeiro se tornou a cidade mais violenta do Vale? Cruzeiro era uma cidade bonita,com suas ruas e avenidas planejadas,dois “lindos jardins com garotas e flores” foi transformada numa cidade triste, abandonada, sem perspectiva de emprego, lojas fechando, casas abandonadas,terrenos sujos e cheios de mato. É só vir aqui e conferir.
O que acontece com Cruzeiro hoje é parecido com o que aconteceu em Jacareí no final dos anos 90 e início dos anos 2000. Jacareí estava muito mal. Muitas empresas indo embora, sem conseguir atrair novos investimentos, cidade muito endividada e completamente abandonada. Pra se ter ideia, a economia de Jacareí era praticamente 1/3 da economia de Taubate no ano 2000 (hoje as duas estão empatadas). Tinha literalmente virado uma cidade dormitório.
Sem perspectiva, muitos jovens mergulharam no crime e Jacareí se tornou uma cidade violentíssima. Jacareí chegou a registrar 97 homicídios e 65 tentativas de homicídio em 2002, aparecia no noticiário nacional como uma cidade bem violenta. Só lembrar do tiroteio no supermercado Pão de Açúcar (6 mortos) e na chacina com 10 mortos.
Embora tenha demorado, o governo estadual mandou reforço de policiamento para Jacareí e depois a cidade conseguiu se reestruturar e atrair investimentos, melhorando a oferta de emprego e renda. Com isso, os indicadores de violência foram diminuindo, embora ainda tenha bastante por melhorar. Só que a diferença da Jacareí de hoje para a Jacareí de 20, 25 anos atrás, é enorme.
Para Cruzeiro, o remédio é parecido. O governo estadual precisa declarar Cruzeiro como prioridade de policiamento, aumentar o efetivo, inclusive com a implantação de um CAEP na cidade. A prefeitura por sua vez precisa fazer a lição de casa, para voltar a atrair investimentos e melhorar a administração da cidade.
Interessante o que escreveu.